Autora: Marina Batochio - Projeto Amigos da Jubarte
A controvérsia da cultura animal
“Cultura” pode ter muitas definições. Aqui pode ser entendido como a aquisição de informação, comportamento ou padrão de conhecimento dependente de transmissão social. A presença de processos culturais, ou da cultura em si, em animais não humanos não é consenso entre os pesquisadores.
A controvérsia está presente desde o começo das pesquisas nessa área. Os pesquisadores que defendem a presença dos processos culturais em animais são acusados de antropomorfizar seus objetos de estudo. Já os que negam são apontados como antropocêntricos por considerar a cultura exclusivamente humana.
Em cetáceos, por exemplo, os primeiros estudos culturais focaram nos cantos das baleias jubartes (Megaptera novaengliae) pela similaridade dos seus mecanismos com a transmissão dos cantos em pássaros. O canto das baleias jubarte, é um dos indícios mais fortes de transmissão cultural em animais não humanos!
As dificuldades
A chance de observar comportamentos novos surgirem e se espalharem por uma população é pequena, ainda mais em cetáceos. Nesse grupo de animais o estudo em ambiente natural torna ainda mais difícil coletar informações sólidas que evidenciem a presença de processos culturais.
É fato que experimentos controlados trazem dados melhores e mais exatos de como os comportamentos são transmitidos pelas populações quando comparados a estudos de observação. Nos grandes cetáceos, porém, a observação é a única alternativa. Mesmo com dificuldade, os estudos e indícios de transmissão cultural nesses animais vêm crescendo.
Muitas espécies de cetáceos vivem em grupos sociais estáveis, o que colabora para a transmissão de informação. Ainda assim, são necessárias observações sistemáticas em campo que permitam a eliminação de fatores ecológicos e genéticos como causadores de variações comportamentais. É interessante e promissora a pesquisa de comportamento em cetáceos porque esta oferece um contraste aos estudos de cultura tanto em humanos como em outros animais terrestres, já que existe uma diferença ambiental enorme. Tal distinção pode refletir processos culturais bem diversos. Por exemplo, em um estudo feito pela primatologista Jane Goodall há 20 anos, foram sintetizadas 40 tradições em chimpanzés que eram comuns apenas em alguns grupos, já indicando variação cultural entre eles. Nos chimpanzés os estudos relacionados à cultura já estão mais avançados.
A pesquisa
O pesquisador James Hain, em 1980, notou uma performance individual de baleia-jubarte do que pareceu uma inovação comportamental, conhecida por lobtail feeding. Este comportamento é baseado em uma média de uma a quatro batidas com a parte ventral da nadadeira caudal na água, resultando em bolhas no local. O indivíduo então, para se alimentar, mergulha de baixo para cima soprando a rede de bolhas, a qual atordoou e aprisionou as possíveis presas, geralmente um cardume de krill.
Desde essa data até 2013, segundo um estudo publicado na Science, foram avistados 278 indivíduos realizando o mesmo comportamento, dentre as 700 baleias que normalmente são avistadas na área em que o estudo foi conduzido. Os pesquisadores compilaram também os dados de 1980 até 2007 do Whale Center of New England. Durante esse período de estudo, a proporção da população de baleias que tinham a informação do comportamento cresceu para 37%, indicando que o conhecimento a respeito dessa nova técnica foi espalhado com o tempo.
Esse estudo é uma forte evidência de que o novo comportamento está se difundindo pelos indivíduos e são grandes as chances de isto ocorrer por aprendizagem social.
O que sabemos hoje sobre a presença de cultura nos cetáceos ainda é pouco. A importância de processos culturais para as baleias-jubarte, cetáceos, ou outros animais, é também uma controvérsia entre os pesquisadores. Alguns indícios aqui apresentados e muitos outros estudos que estão sendo produzidos são apenas pedaços de um longo caminho na tentativa de provar que a cultura está presente e tem a capacidade de influenciar as estratégias comportamentais dentro das espécies.
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