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A HISTÓRIA DA CAÇA ÀS BALEIAS

Autora: Marina Batochio - Projeto Amigos da Jubarte



A exploração das baleias, presente por muitos anos, quase eliminou os grandes cetáceos do ecossistema marinho. Reconstruir e analisar essa história é de extrema importância para a restauração do ambiente marinho e para futuras discussões relacionadas à caça comercial.



A história


A exploração dos grandes mamíferos marinhos remonta ao século XII pelos bascos, no golfo da Gasconha. No século XVII, a baleação seguiu para o Ártico. A história da caça de baleias no Brasil remonta à época colonial, desenvolvida principalmente nas antigas armações baleeiras da Bahia, Rio de Janeiro e Santa Catarina.


No Brasil colônia, segundo a pesquisadora Myrian Ellis, em 1602 o rei Filipe III deferiu aos navegadores lusitanos uma concessão régia de pesca da baleia na costa do Brasil, pelo prazo de 10 anos. Iniciou-se então a atividade mercantil relacionada à captura dos cetáceos em mares brasileiros e, posteriormente, foi instalado o monopólio da pesca da baleia no Brasil, que logo depois passou a ser propriedade da Coroa.


No início, caçava-se com arpões, os quais continham uma lança que fisgava grandes peixes e baleias. Essa técnica mais antiga permitia apenas a captura de espécies mais lentas. Assim, a baleia jubarte (Megaptera novaeangliae), a baleia franca (Eubalaena australis), e a cachalote (Physeter macrocephalus) foram grandes alvos.


Em 1879 foi inventado o canhão lança-arpão com ponta explosiva, o que agravou os números da caça. Além de matar com rapidez e precisão, essa nova arma permitiu que até os mais rápidos animais fossem atingidos. Depois vieram os navios-fábrica. Estes eram capazes de permanecer meses seguidos no mar e convertiam as baleias em barris de óleo e toneladas de carne embalada em 2 horas (para cada baleia). O maior navio-fábrica era capaz de matar e processar mais baleias em um dia que um típico baleeiro do século XIX conseguira em mais de um ano de viagem.


A caça e a legislação


Desde o início das suas atividades, em 1958, e durante três décadas, a Companhia de Pesca Norte do Brasil (COPESBRA) promoveu a caça em larga escala. Segundo os registros da mesma, foram computados aproximadamente 22 mil abates de baleias. As espécies mais caçadas pela companhia, segundo Clóvis Roberto, estudioso do assunto, foram as baleias minke (Balaenoptera acutorostrata), a sei (Balaenoptera borealis) e a jubarte.


A prática, na época justificada como atividade comercial e por fins econômicos, não era questionada pelas autoridades. Apenas em meados dos anos 70, com a contracultura e o movimento ambientalista, a pressão popular começou a mudar o cenário. No início da década de 80, com o aumento dos abates, a situação de vulnerabilidade e a ameaça de extinção dos grandes cetáceos, surgiram também campanhas preservacionistas, como “salvem as baleias”. Cantores como Erasmo Carlos compuseram “As baleias”, despertando a sociedade para a gravidade do problema.


O cenário legislativo brasileiro começou a mudar apenas em 1981, com a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei federal 6.938/81), que foi o marco do direito ambiental no país. Internacionalmente já havia algumas mudanças. Em 1946, foi desenvolvida a International Whaling Comission (IWC), criada para regulamentar a caça de baleias, estabelecer limites e designar áreas de preservação. Porém, a caça ilegal se fazia presente. Quando uma espécie tinha sua população diminuída, outra logo se tornava alvo das caças. Algumas espécies chegaram a ter sua caça proibida pela IWC, porém uma revisão nos dados da própria Comissão fornece evidências de que, ainda que proibido, os indivíduos dessas espécies diminuíam gradualmente.


Em 1933, depois da Guerra Fria, biólogos soviéticos revelaram que a União Soviética teria conduzido uma campanha em massa de caça ilegal logo após a Segunda Guerra Mundial. Num estudo de 2014, os autores Ivashchenko e Clapham estimam que a União Soviética deixou de reportar mais de 177.000 capturas ao redor do mundo, sendo a baleia-jubarte o animal mais prejudicado dentre esses números.


Em 1987, o Japão deu início à caça com “fins científicos”, no mesmo período em que os estudos a longo prazo de baleias em ambiente natural, através de observações e identificação de indivíduos, provavam-se muito mais eficientes para estudar o comportamento e biologia desses animais. Ainda que com fins científicos, a carne proveniente da caça continuava a ser comercializada. Desde esse ano, o Japão matou mais de 15.000 baleias nos seus dois programas de “caça científica”. Tal quantidade mostrou-se muito maior que o número total de mortes justificadas por pesquisa em todas as outras nações juntas (2100 animais).


No Brasil, em 1987, surgiu a Lei dos Cetáceos (n.7.643/87), que coloca: “Fica proibida a pesca, ou qualquer forma de molestamento intencional de toda espécie de cetáceos nas águas jurisdicionais brasileiras, com pena de 2 a 5 anos de reclusão e multa, com perda da embarcação em caso de reincidência.” Lei esta que também não foi capaz de impedir a caça ilegal.


Produtos


A captura de baleias nunca teve como principal objetivo o consumo da carne. Buscava-se a espessa camada de gordura para produzir o óleo. Uma baleia de 22 metros chegava a produzir cerca de 10.000 litros de óleo, considerado o petróleo da época.

Este principal produto era destinado a iluminação, lubrificação e fabricação da argamassa utilizada na construção de igrejas, fortalezas e edifícios.

Produto secundário, as barbatanas eram comercializadas para a fabricação de espartilhos, golas, mangas, chicotes e varas de pescar.

A carne, apesar de não ser o produto principal, era vendido como alimento (salgado e seco) e a língua era considerada uma iguaria, reservada à nobreza.

Os ossos eram usados como móveis e utensílios domésticos, e eram encontrados também em postes e trilhos.

A pele poderia ser descartada ou utilizada na fabricação de sapatos.




Impacto


Um compilado dos números da caça industrial moderna, realizado por Ivashchenko, Rocha e Clapham, mostrou um total aproximado de baleias mortas desde o começo da baleação industrial moderna em larga escala, logo depois de 1900. O resultado encontrado foi em torno de 3 milhões de animais, sendo considerada pelos autores uma das maiores caçadas da história humana. Infelizmente ainda existem navios fábricas em águas antárticas, utilizados pelos japoneses que alegam "cunho científico".


O período de caça foi cruel e quase devastou as populações dos grandes mamíferos marinhos e, consequentemente, causou impactos sobre o equilíbrio do ecossistema marinho.


As jubartes, uma das espécies mais exploradas pela caça mundialmente, estão mostrando fortes taxas de crescimento populacional. O impacto da baleação varia pelo mundo. Muitas espécies parecem estar em boa recuperação, mas ainda são necessários maiores estudos na área.


O Projeto Amigos da Jubarte não mede esforços para atuar na luta pela preservação das populações de baleias, em especial as baleias-jubarte. Para proteger as populações é necessário que se saiba a história desses árduos períodos para que tracemos estratégias conservacionistas capazes de permitir que as baleias continuem na sua jornada de recuperação.


Desde 2014, o projeto vem atuando nas pesquisas, nas atividades de observação de baleia sustentável de forma responsável e regulamentadas, nas capacitações técnicas para Profissionais Marítimos e Operadores Turísticos, promovendo palestras de educação ambiental em escolas e empresas, a fim de sensibilizar a população para a importância desses animais e do ambiente marinho, além de servirem a fins econômicos para as populações litorâneas.


Atualmente cerca de 20 mil baleias migram para o Espírito Santo todos os anos para iniciar o seu ciclo de reprodução, e esse número só tende a crescer. Vamos juntos em prol da conservação do ecossistema marinho e as baleias-jubarte



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Para aqueles que tem interesse em ver as baleias em Vitória - Espírito Santo em 2021, é só entrar no site do Projeto Amigos da Jubarte pelo link: www.queroverbaleia.com


Os Projetos Amigos da Jubarte, Jubarte.Lab e Golfinhos do Brasil são de realização do Instituto O Canal e Instituto Últimos Refúgios, em parceria com a Vale e o apoio nessa atividade da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Lar Mar.




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